Parece impossível que em pleno
verão, numa época de habitual grande afluência às praias, uma enorme chuvada
tenha desabado sobre Lisboa, surpreendendo tudo e todos aqueles que se
inscreveram para a Corrida 10k da UNICEF.
Logo ao sair de casa, presenciei
um tempo horrível, frio, nublado e chuvoso, questionando-me logo de seguida
se não deveria era voltar para a cama e deixar-me de corridas à chuva. Mas não,
continuei a alimentar a eterna esperança que as condições climatéricas melhorariam,
e lá fui aventurar-me em mais uma prova de 10k desenrolada no centro da cidade.
Considerando que a prova
terminaria nos Restauradores, fui deixar o carro o mais perto possível da
chegada, de forma a poder regressar tranquilamente após a corrida, e dirigi-me
para a partida de Metro, outros companheiros faziam o mesmo, meia dúzia de
doidos como eu salientavam-se nas vazias carruagens entre o Marquês e
Entrecampos.
Quando cheguei o cenário era
desolador, umas centenas de participantes escondiam-se sob as varandas dos
prédio ou nas paragens de autocarros, procurando abrigarem-se da chuva que
continuava a cair copiosamente… Apenas alguns aventureiros mais corajosos
faziam já o desejado e necessário aquecimento, muitos deles protegidos por
ponchos, blusões e tapa-chuvas, procurando minimizar as desprezíveis condições
climatéricas desta manhã. Faltavam menos de 15 minutos para
a partida quando, mesmo sob os aguaceiros que teimosamente persistiam em cair,
o pessoal foi-se agrupando junto ao pórtico de partida, onde o ensopado speaker
esforçava-se em manter aquela gente motivada e alegre.
Uma das grandes novidades desta
prova, que me chamou mais a atenção, foi a existência de um conjunto de
“corredores teasers” que iriam sinalizar os diferentes ritmos de andamento
(através de estandartes identificativos do tempo aos 10k), estipulei ali que,
se tudo corresse bem, seria uma excelente oportunidade para avaliar o meu
melhor ritmo, manter o teaser dos 50min sempre à vista e fugir dos 60min o mais
possível… O meu objectivo para esta corrida estava definido, vamos embora
então.
Logo que a partida foi anunciada
(pela mítica Rosa Mota) e o pelotão dirigia-se para o Saldanha, percorrendo a
Avenida da República bastante molhada e cheia de poças de água, procurei um ritmo
agradável muito perto da “tal bandeira dos 50min”…. Ao entrar no primeiro túnel
(sob a Av. Berna), deparei com o Jorge Máximo, Vereador do Desporto da CML, que
também participava e com quem troquei algumas palavras, procurando distrair-me
do horrível tempo que continuava a fazer-se sentir.
Após sair do túnel, perto do
cruzamento com a Av. Elias Garcia, deixei-o para trás e
segui no meu ritmo… já os primeiros do pelotão aceleravam em sentido contrário
após terem contornado no Saldanha. O ritmo era bastante agradável e a ausência
de calor ajudava a puxar um pouco mais…
Quem pensa (como eu pensava) que
o percurso Saldanha – Campo Grande e regresso, é fácil e agradável, pode ser
surpreendido e ficar refém de uma dificuldade inesperada: o constante sobe e
desce aquando das passagens pelos túneis da Av. da República e Campo Grande… a
cada nova descida correspondia outra subida, o que foi deixando marcas e
cansaço acumulado. Mesmo assim, no retorno aos 5k, perto da Churrasqueira do
Campo Grande, onde surgia o 1º abastecimento, e apesar do desgaste, o tempo era
excelente: 26min e qualquer coisa…. Nem queria acreditar… e o “teaser” dos
50min ali à minha frente não mais de 30 metros .
Mas na segunda passagem pelo
túnel da Av. Brasil a coisa foi-se complicando… E logo a seguir… novo sobe e
desce, sob a rotunda de Entrecampos… e a distância para o homem do estandarte
azul foi aumentando rapidamente. E foi no túnel da Av. da República que o
estoiro se deu… aquela última subida foi dolorosa e quando termina a subida e avisto
finalmente o Saldanha, estava literalmente “sem fôlego”…
Diminui a passada, desistindo
definitivamente de perseguir o longínquo “teaser” dos 50min, e apenas me
preocupei em manter as pernas a rolar… com alguma desilusão fui sentido as
ultrapassagens e tive a clara sensação da “quebra”, procurei um ritmo mais
baixo marcado por alguns companheiros que também seguiam em dificuldade. Felizmente
na entrada na Av. Fontes Pereira de Melo, novo abastecimento, e uma visão
motivadora: avistava-se a estátua do Marquês de Pombal, sinal que a partir dali
seria sempre a descer.
Gradualmente fui recuperando o
fôlego e a passada foi aumentando, após as Picoas senti que estava mais rápido
que anteriormente, controlei a respiração e aumentei a amplitude da passada…
resultou.
Cheguei ao Marquês em bom ritmo,
era a minha vez de ultrapassar o pessoal, com o aumento da velocidade senti
cada vez mais o corpo pesado da t-shirt completamente encharcada pela chuva que
continuava a cair, mas faltava pouco e era sempre a descer… Olhei para o
relógio que marcava 48min, senti que podia bater o meu RP… um último esforço
pela Avenida abaixo.
Digam o que disserem, a Avenida
da Liberdade é uma das artérias mais bonitas do Mundo, mesmo em dia de chuva,
aquela larguíssima avenida, vazia de carros e da poluição, era um agradável
promenade para quem dava o máximo para queimar os últimos metros da corrida.
Cheguei exausto, encharcado até
ao âmago, mas satisfeito e bastante feliz… para além do agradável percurso (mesmo
com o horrível sobe e desce dos túneis), consegui bater o meu recorde pessoal,
e até com uma interessante vantagem, cruzei a linha com 52:06, o que indicia
que, com menos chuva e mais uns treinos (especialmente rampas), posso estar
muito perto de fazer os 10k abaixo dos 50 minutos, um objectivo para perseguir
após as merecidas férias de verão. Até Setembro.
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