domingo, 16 de março de 2014

Um Mar de gente sobre a Ponte


Pois é, 16 anos depois, regressei à mítica prova da travessia da Ponte 25 de Abril... A Meia-Maratona de Lisboa (no meu caso a Mini) é a prova de referência em Portugal, por vários motivos: desde o desafio em atravessar a belíssima ponte sobre o Tejo, pelo trajecto agradável e fácil para todos os que se iniciam (ou retomam) esta actividade de correr, pela excelente organização... e considerando ainda o contínuo record de participações: cerca de 38.000 pessoas atravessaram a ponte esta manhã.

Foi mais um dia (manhã) bem passado, mais do que um esforço competitivo... O Mar de gente que me envolveu desde logo cedo, mesmo quando saía de casa, foi o mote constante durante toda a manhã.
Certamente que o facto de residir a escassos metros da linha de chegada ajudou-me a criar uma motivação extra para esta prova que tão boas recordações me traz. Desde a última prova que tenho direccionado os treinos para esta agradável participação, por agora contento-me apenas com os 8 Km da Mini (para mim um "dejá Vú") e até consegui "arregimentar" alguns amigos para esta aventura.

A grande exigência desta prova é declaradamente a logística... De saber colocar o carro em lugar estratégico (à porta de casa) para poder deslocar-me após a prova, procurar a melhor opção de transporte para a zona da partida, e sobretudo, saber deslocar-me... antes, durante e depois da corrida... por entre um autêntico mar de gente. Esse sim, foi o grande desafio desta manhã.

Para que não estivesse sujeito a incómodas surpresas, cedo decidi que o transporte para a partida seria no comboio da Fertagus, preferencialmente a partir de Entrecampos. E assim foi, conseguindo uma amorosa boleia até à estação, fui experimentar pela primeira vez, atravessar a ponte de transportes... a viagem foi rápida numa carruagem de 2 pisos completamente lotada de companheiros de corrida. Depois foi seguir a gigantesca mole humana durante 15 minutos até à praça da portagem, onde milhares se amontoavam, aguardando pelo tiro de partida.

O nosso grupinho (éramos apenas 4) posicionou-se sensivelmente a meio daquele imenso mar de cabeças, debaixo de um sol radioso que começava a aquecer, observando tudo o que nos rodeava enquanto aguardávamos pelo momento da partida. Foram momentos incríveis... gente de todas as idades, uns bem preparados, outros nem por isso, gente de todo o mundo, mas todos bem dispostos.

Quando suou o imperceptível tiro de partida, consegui vislumbrar o arranque fulminante do grupo dos favoritos (quenianos e companhia), mas andar para a frente ? ... nada ! continuava imóvel no mesmo sítio... e o relógio a contar... Finalmente, alguns minutos depois, a malta à minha frente começou a ... andar... devagar, muito devagar...

Despedi-me dos companheiros de viagem e tentei "furar" por aquele imenso mar humano. Passaram quase 5 minutos e ainda não tinha chegado ao tabuleiro da ponte... Uma vez mais, apenas liguei o "Runtastic" quando passei sob o pórtico da partida, à entrada do tabuleiro.

Durante os primeiros 3 Kilómetros foi um constante e perigoso ziguezaguear por entre milhares de participantes, procurando as zonas do tabuleiro da ponte mais disponíveis, mas sempre encontrando diferentes andamentos e trajectórias, não tendo sido uma fase difícil, foi bastante "trabalhoso"... ultrapassar os mais lentos e procurar quem estivesse em andamento semelhante. Foi ainda nesta fase que nos cruzamos com figuras e participantes mais "turísticos" cujo objectivo é igualmente animar o gigantesco pelotão, como seja o batalhão do BOPE (um conjunto de policias de elite brasileiros que numa passada ordenada e regular, entoavam os seus cânticos guerreiros), ou como uma família de alemães, todos equipados a rigor que seguiam em linha, criando uma barreira a quem queria ultrapassar, ou ainda um grupo de franceses onde seguia um individuo ostentando uma t-shirt da famosa "Marathon dú Médoc" (ainda ei-de lá ir um dia...).

Quando abandonamos a ponte seguindo em direcção a Alcântara, começa a surgir algum espaçamento entre participantes, não é muito ainda, mas já permite manter um andamento regular sem andar a fazer gincana... Inicia-se a descida, o ritmo da passada aumenta, e é hora de fixar alguém para acompanhar. No final da descida, surge a primeira assistência que efusivamente aplaude os corredores, foi a melhor fase da corrida, ainda fresco e com espaço para "apertar" um pouco o andamento, passando entretanto pelo ponto de abastecimento na Rua de Cascais.

Uns metros à frente, surge a divisão dos trajectos (Meia para a esquerda em direcção ao Cais do Sodré e Mini para a direita, directamente para Belém), mais à frente julguei reconhecer alguém... e era mesmo, a Helena, minha colega de faculdade que habitualmente não falha esta prova, um "olá Helena"... ela ainda responde mas eu já vou mais à frente... O meu andamento nesta fase era bastante agradável (a menos de 5 min/Km) enquanto passava sob um dos pilares da ponte (olhando para cima vi que o tabuleiro continuava cheio de gente), local que utilizamos como ponto de retorno dos treinos ribeirinhos. Assim está fácil, só falta metade, pensei para comigo, isto faço eu quase todos os dias, vamos embora então... Mais ânimo para o pouco que falta: um grupo de rock cantava AC/DC à nossa passagem, mais à frente a história repetia-se, mas com outra melodia.

Este ânimo começou a vacilar com a chegada ao Km 7, após a Cordoaria, senti uma quebra... o andamento já não era o mesmo, já não tinha água, o calor fazia-se sentir e a respiração não ajudava... mas só faltava mais 1 Km... só mais um esforço...

Com a chegada à zona de Belém, novamente o público marcava presença, e a passagem sob os pórticos de publicidade junto à estação ferroviária anunciavam a proximidade da meta, gradualmente começava-se a ouvir o speaker... (Neto Gomes... que saudades das Voltas a Portugal), mesmo a custo, vamos acelerar para entrar na recta da meta e ficar surpreendido pelo tempo marcado no cronometro oficial... 40 minutos. Muito bom ! 16 anos depois, e logo na primeira tentativa, logrei repetir a minha melhor marca desta prova, tempo oficial "Runtastic": 40:59 para os 7,86 Km. Correu muito bem, e apesar de algum esforço no final, fica a sensação que... foi mais rápido do que o esperado...  e vamos melhorar ainda mais no futuro.

Parabéns à organização, mais uma vez excelente, parabéns à Ana e ao Pedro, conseguiram chegar juntos e bem dispostos, e sobretudo parabéns às restantes 38.000 pessoas que partilharam comigo esta alegre, agradável e solarenga manhã de Domingo.