segunda-feira, 7 de julho de 2014

I’m Running in the Rain…




Parece impossível que em pleno verão, numa época de habitual grande afluência às praias, uma enorme chuvada tenha desabado sobre Lisboa, surpreendendo tudo e todos aqueles que se inscreveram para a Corrida 10k da UNICEF.

Logo ao sair de casa, presenciei um tempo horrível, frio, nublado e chuvoso, questionando-me logo de seguida se não deveria era voltar para a cama e deixar-me de corridas à chuva. Mas não, continuei a alimentar a eterna esperança que as condições climatéricas melhorariam, e lá fui aventurar-me em mais uma prova de 10k desenrolada no centro da cidade.

Considerando que a prova terminaria nos Restauradores, fui deixar o carro o mais perto possível da chegada, de forma a poder regressar tranquilamente após a corrida, e dirigi-me para a partida de Metro, outros companheiros faziam o mesmo, meia dúzia de doidos como eu salientavam-se nas vazias carruagens entre o Marquês e Entrecampos.

Quando cheguei o cenário era desolador, umas centenas de participantes escondiam-se sob as varandas dos prédio ou nas paragens de autocarros, procurando abrigarem-se da chuva que continuava a cair copiosamente… Apenas alguns aventureiros mais corajosos faziam já o desejado e necessário aquecimento, muitos deles protegidos por ponchos, blusões e tapa-chuvas, procurando minimizar as desprezíveis condições climatéricas desta manhã. Faltavam menos de 15 minutos para a partida quando, mesmo sob os aguaceiros que teimosamente persistiam em cair, o pessoal foi-se agrupando junto ao pórtico de partida, onde o ensopado speaker esforçava-se em manter aquela gente motivada e alegre.

Uma das grandes novidades desta prova, que me chamou mais a atenção, foi a existência de um conjunto de “corredores teasers” que iriam sinalizar os diferentes ritmos de andamento (através de estandartes identificativos do tempo aos 10k), estipulei ali que, se tudo corresse bem, seria uma excelente oportunidade para avaliar o meu melhor ritmo, manter o teaser dos 50min sempre à vista e fugir dos 60min o mais possível… O meu objectivo para esta corrida estava definido, vamos embora então.

Logo que a partida foi anunciada (pela mítica Rosa Mota) e o pelotão dirigia-se para o Saldanha, percorrendo a Avenida da República bastante molhada e cheia de poças de água, procurei um ritmo agradável muito perto da “tal bandeira dos 50min”…. Ao entrar no primeiro túnel (sob a Av. Berna), deparei com o Jorge Máximo, Vereador do Desporto da CML, que também participava e com quem troquei algumas palavras, procurando distrair-me do horrível tempo que continuava a fazer-se sentir.
Após sair do túnel, perto do cruzamento com a Av. Elias Garcia, deixei-o para trás e segui no meu ritmo… já os primeiros do pelotão aceleravam em sentido contrário após terem contornado no Saldanha. O ritmo era bastante agradável e a ausência de calor ajudava a puxar um pouco mais…

Quem pensa (como eu pensava) que o percurso Saldanha – Campo Grande e regresso, é fácil e agradável, pode ser surpreendido e ficar refém de uma dificuldade inesperada: o constante sobe e desce aquando das passagens pelos túneis da Av. da República e Campo Grande… a cada nova descida correspondia outra subida, o que foi deixando marcas e cansaço acumulado. Mesmo assim, no retorno aos 5k, perto da Churrasqueira do Campo Grande, onde surgia o 1º abastecimento, e apesar do desgaste, o tempo era excelente: 26min e qualquer coisa…. Nem queria acreditar… e o “teaser” dos 50min ali à minha frente não mais de 30 metros.

Mas na segunda passagem pelo túnel da Av. Brasil a coisa foi-se complicando… E logo a seguir… novo sobe e desce, sob a rotunda de Entrecampos… e a distância para o homem do estandarte azul foi aumentando rapidamente. E foi no túnel da Av. da República que o estoiro se deu… aquela última subida foi dolorosa e quando termina a subida e avisto finalmente o Saldanha, estava literalmente “sem fôlego”…

Diminui a passada, desistindo definitivamente de perseguir o longínquo “teaser” dos 50min, e apenas me preocupei em manter as pernas a rolar… com alguma desilusão fui sentido as ultrapassagens e tive a clara sensação da “quebra”, procurei um ritmo mais baixo marcado por alguns companheiros que também seguiam em dificuldade. Felizmente na entrada na Av. Fontes Pereira de Melo, novo abastecimento, e uma visão motivadora: avistava-se a estátua do Marquês de Pombal, sinal que a partir dali seria sempre a descer.

Gradualmente fui recuperando o fôlego e a passada foi aumentando, após as Picoas senti que estava mais rápido que anteriormente, controlei a respiração e aumentei a amplitude da passada… resultou.

Cheguei ao Marquês em bom ritmo, era a minha vez de ultrapassar o pessoal, com o aumento da velocidade senti cada vez mais o corpo pesado da t-shirt completamente encharcada pela chuva que continuava a cair, mas faltava pouco e era sempre a descer… Olhei para o relógio que marcava 48min, senti que podia bater o meu RP… um último esforço pela Avenida abaixo.

Digam o que disserem, a Avenida da Liberdade é uma das artérias mais bonitas do Mundo, mesmo em dia de chuva, aquela larguíssima avenida, vazia de carros e da poluição, era um agradável promenade para quem dava o máximo para queimar os últimos metros da corrida.


Cheguei exausto, encharcado até ao âmago, mas satisfeito e bastante feliz… para além do agradável percurso (mesmo com o horrível sobe e desce dos túneis), consegui bater o meu recorde pessoal, e até com uma interessante vantagem, cruzei a linha com 52:06, o que indicia que, com menos chuva e mais uns treinos (especialmente rampas), posso estar muito perto de fazer os 10k abaixo dos 50 minutos, um objectivo para perseguir após as merecidas férias de verão. Até Setembro.